Daqui a alguns tempos, quando as próximas gerações buscarem uma expressão para nos caracterizar, entre as tantas denominações possíveis, possivelmente nos chamarão de sociedade do veneno! Somos a sociedade que mais ingere substâncias venenosas, pela via da alimentação, na história da humanidade. Mas o que torna isso possível? A transformação genética dos alimentos.
Racismo, misoginia e Copa do Mundo
Há alguns anos ouvi uma história que narrava sobre o gosto dos japoneses pelo tomate. Eles apreciam tomates túrgidos, suculentos, enrubescidos e sem manchas. Entretanto, devido ao frio que chegava intempestivamente às lavouras tomateiras japonesas, seus produtos pereciam. Como eles resolveram isso? Transpondo para o tomate um gene do bacalhau que tornava sua pele resistente ao congelamento. Assim, os tomates japoneses, mesmo expostos ao frio extremo, ao gelo, permaneciam perfeitos. Essa fábula é uma explicação lúdica e muito ilustrativa da transgenia.
Foto: Pixabay
Na agricultura a explicação não é tão cândida assim. Um produto é modificado geneticamente para resistir única e exclusivamente a um determinado agente químico. Por outros termos, modifica-se geneticamente um alimento para que apenas ele, e nenhum outro, resista à ação do veneno agrícola. Por isso em uma lavoura de milho, arroz, soja, trigo nada, além da semente transgênica, sobrevive; nenhuma gramínea, nenhuma minhoca, nenhuma formiga, nada! É a morte completa da microflora e da microfauna, do solo e da vida. É um deserto verde, apenas sobrevivem os grãos resistentes geneticamente ao veneno.
Aquilo que os defensores dessas substâncias chamam de agroquímicos, defensivos agrícolas, chamamos de veneno mesmo. Cada brasileiro consome mais de 5 litros de agrotóxicos, herbicidas, pesticidas ao ano. O lobby do agronegócio, sobre a produção de agroquímicos, fármacos e sementes geneticamente modificadas tem força suficiente para manter esse ciclo intocável. Sua bancada no Congresso soma às dezenas, enquanto que os representantes da agricultura familiar, orgânica, se resumem às unidades. Enquanto se mantiver essa lógica perversa, continuaremos sendo a sociedade que mais consome veneno no mundo. Nesse contexto, não nos restará outra nomenclatura, a não ser a de sociedade do veneno, é só se servir, ele está à mesa!